sábado, 15 de outubro de 2016

Poema de brinquedo: um chamado especial


Um chamado especial

Um chamado, a minha criança ouviu.
Se escondeu, correu, encabulou...
Mas depois sorriu =).

Moleca, sapeca, boneca,
sempre quis brincar.
Mas crescida e escondida, sumira,
calara e parara de inventar.

Esperava o chamado...

E um chamado...
A minha criança ouviu.
Voltou vibrante,
Fincou lugar.
Nunca mais partiu.

06 de outubro de 2016
Carolina Grant

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Poema do Renascimento


Poema do Renascimento

Explosão. Estilhaços. Por todos os lados.
Um zumbido ecoou e ecoou e ecoou e ecoou no espaço.

Milhares de fragmentos foram violentamente arremessados.
O eco da explosão
Reverrrrberou...
Ricocheteou... Arrebatou!
Impeliu todos a saírem de seus quartos, casas, escritórios e carros.

Pôs todos a seguirem em direção ao coração da cidade.
Ao coração.
Rumores, olhares assustados.
Alguém viu? Alguém? Alguém?

Por quê? Como? De onde veio?
O que houve? Ninguém sabe. Ninguém viu.
De uma coisa, contudo, todos estavam seguros
Era impossível não sentir a energia e a intensidade vibrando no ar.
Rostos impressionados, emocionados, se entreolhavam.

Viram todas as cores emanadas da explosão. Todas elas.
O começo? Uma garota. Apenas uma garota.
Lá estava ela e de repente... não mais que de repente...
Tudo virou caos, cores e estilhaços.
Apenas uma garota. Que continha um Universo inteiro no peito.
Rompeu o tédio, o nojo e o ódio. Explodiu em sentimentos, energia, cores e abalos.

Acabou.

Virou-se pelo avesso, contorceu-se, explodiu.
Investigam se foi por Amor.
Vozes ecoam que foi pela Dor.
E alguns articulam, ainda, que foi pela Vida.
Restara sufocada pelo excesso de vida que carregava aprisionado.

De uma coisa, apenas, ninguém duvidava
Era impossível para qualquer um se esquecer do que presenciara.

Ninguém seria mais o mesmo.
O mundo reverberava em energia, com pequenas, ininterruptas explosões de liberdade e calmaria.
Viram o resultado fatal do baile de máscaras cotidiano. Testemunharam.
O eco daquele dia até hoje reverbera na memória de todos os presentes e gerações descendentes.

Era o presságio de uma nova era,
Muito além da compreensão.

Fazendo com que muitos passassem a carregar dentro de si
O germe da revolução
Revoluções internas ou externas, limitadas ou exponenciais. Tanto faz.
Minimamente o que importaria seria a inexorabilidade da reversão.
Ah, sim, ninguém poderia esquecer-se do poder transformador de um renascimento forçado.

Do poder surdo e incontrolável de desejos contidos, a vida renasceria.
E quando muitos se reunissem naquela mesma frequência. Aí, sim, seria a hora.

Entrelaçados e abraçados por uma causa libertadora,
Nada ficaria imune.
E ela seria lembrada por ter sido a primeira,
Rompera consigo mesma, rompera os seus próprios limites,
Ganhara o mundo, os céus e o universo,
Impusera a todos que escutassem o seu chamado,
Amou para além da humanidade, da vida e da finitude... Amou à Liberdade.

22 de setembro de 2016
Carolina Grant

Poema da Amargura... (Ou Reflexo)


Poema da Amargura... (Ou Reflexo)

Ninguém soube,
Quando ela foi morar longe.
Fechou a casa,
Deixou as coisas todas.
Foi-se.
De uma hora para outra,
Sem despedidas.
Nem uma carta deixara.

Ninguém soube
Do que lhe corroía o peito.
Começou fraco, cabreiro,
Mas invadiu-lhe as veias todas.
E, com o tempo,
A consumiu por inteiro.

Ninguém soube,
Quando foi bem que começou,
Quando um sentimento só
Passou a corroê-la,
Circulando em suas veias,
Transformando-as em tinteiro.

Ninguém soube
Do quanto doía por detrás das máscaras.
O riso sincero que lhe faltava
Roubaria de quem lhe roubara.
Apagaria o sorriso outro
Faria desmoronar...
Todas as fachadas.

Foi então que...

Ninguém soube
De onde saiu o tiro letal,
Porque ricocheteou naquele reflexo,
Cumpriu o seu destino...
Voltou e foi fatal.
Uma estilhaçada e a outra, com um baque, quedara.
Primeiro aquela e depois ela.

Ninguém soube
Do acerto tão tentado
Do acerto tão frustrado
Que, enfim, fora alcançado
No fim de todos os fins.

Não fora bem o que ela queria,
Mas ninguém soube,
Não, ninguém sabia.
Os poucos que a entenderiam
Já há muito lá não estavam.

Tantos anos...
Ninguém soube...
Ninguém viu...
Ninguém pôde...
Curar... Parar... Evitar...

Acabara... Ou talvez...
Acabará...
Noutras vidas.

Mas acabaram os sussurros, os murmúrios e os lamentos
Restou apenas aquele silêncio...
Definitivo.

...

.

21 de setembro de 2016
Carolina Grant

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Crônica-em-verso de um dia que começou com sono e poesilosofia


Crônica-em-verso de um dia que começou com sono e poesilosofia
(Em duas vozes)

"O que sobra de nós nesse jogo de aparências?"
(Você acredita em essências?)
Talvez seja preciso morrer...
(Você acredita em viver?)
Suicidar uma parte de nós...
(Desatar - ou atar - alguns nós?)
Mas que parte?...
(A Arte? - Não, estais louca?)
O que deve morrer?...
(Para viver?)
Onde está a imitação?...
Onde estamos nós de verdade?...
(Há um "nós" de verdade?
Você acredita em essências?)
Eu aprendi... a acreditar em essências.
Liberdade... aparências...
Hoje, não sei.
(E agora?)
Quem é você?
(Quem sou eu?)
Quem sou eu?...
(Eu-você?)
Essa pergunta é da Filosofia.
(Poesia?)
Poesia... sim... não!
(Não o quê? Por que não?)
O dia!
(Que dia?)
O dia precisa começar!
(Ah, não... Espera... fica...)
A vida se impõe...
O dia... e suas burocracias...
(Não, fica... Poesia! Olha!)
Olho... Não! O dia!
(Trabalho? Prazos? Provas? - Pára! Para quê tanto palavrão logo de manhã cedo? - Desculpa... eu...)
Tic tac Tic tac
É tarde, adeus!
Acordacomeandacorrefazpassalevatrazvaievaievai...
(Acaba? - Quem sabe? rs Acaba, não, bobinha, há sempre pausas, escapes, eu volto, espera... um dia eu volto e fico, fico mais e vou ficando...)
Mas, agora, vamos! Corre! Adeus!
(Até logo...)
...
(...)
.

12 de agosto de 2016
Carolina Grant

sábado, 25 de junho de 2016

Sigética


Sigética
O tempo é fluido
Como o ar...
A sanidade é rarefeita.
E os efeitos da loucura
São mais doces do que as sombras
Da realidade.

Há sempre nuvens escuras lá fora
Há sempre um silêncio inóspito aqui dentro
Será possível domá-lo?
Antes o vazio lúgubre
Que a tristeza travestida
Que traz uma morte lenta, dolorosa e covarde.
As pessoas morreram e continuam andando, sorrindo (débeis).
E estão todos proibidos de contar-lhes a verdade...

Que verdade?

O tempo é fluido
Como o ar
A sanidade é rarefeita
Os sorrisos obtusos
E só o silêncio, às vezes,
É um bom lugar
(Pelos menos, cá ainda se ouvem idéias e fantasias e elas contam um pouco de verdade).

Salvador, 25 de junho de 2016.
(Releitura de texto de 17 de agosto de 2009)
Carolina Grant

sábado, 4 de junho de 2016

Alice e o Labirinto



Alice e o Labirinto
(Verdades e Ilusões)

"Rápido, Alice! É tarde!
A realidade a espreita e persegue,
O sonho é presságio,
O momento é fugaz.
Corra, Alice, corra atrás!
Siga o seu rastro,
O sonho!
É presságio,
É momento,
É fugaz!
Corra, Alice, corra!"

Seguiu a passos rápidos de criança,
E, em branco, apressada, esvoaçava.
Deixava um sutil rastro de esperança
E um doce perfume de ilusões onde passava.

De relance, eu a vi e observei com ar sombrio,
Porque a dúvida, velha amiga,
Em meu peito crepitava.

Seguiu, então, por um labirinto tortuoso em cores pálidas.
Quando, de longe, num relance, percebi que me chamava.

"Rápido, Alice! É tarde!
A realidade a espreita e persegue,
O sonho é presságio,
O momento é fugaz.
Corra, Alice, corra atrás!
Siga o seu rastro,
O sonho!
É presságio,
É momento,
É fugaz!
Corra, Alice, corra!"

Corri, escorreguei e percebi
Que pela toca do Coelho adentrava.
Quanto mais eu caía e mergulhava,
A realidade escorria para cima e pelos cantos,
E os fragmentos de verdade, eram tantos!,
Se desfaziam em memórias, ilusões e estilhaços.

Bati no fundo estilhaçado das verdades,
Que em cacos de espelhos confundiam a realidade,
Aumentavam, afunilavam, distorciam
Inebriavam, enganavam e seduziam!

Confusa, então, eu perguntava:
"Onde está o Coelho Branco a me guiar
Neste labirinto de ilusões e fantasias?"
"Não está mais, minha menina" - alguém falava
"Aproxime-se, sente-se, venha experimentar
Tenho bem aqui comigo a solução para lhe dar".

Lá estava, era ela, era a Alice verdadeira quem falava,
Numa mistura surreal de Coelho Branco, bailarina e Fada Azul,
A calmaria em pessoa, parecia, também, a Bruxa Boa do Sul,
Que com seu jeito suave e sutil me convidava.

Por de trás de suas palavras uma espessa névoa ela lançava
E, mais uma vez, sem perceber, em palavras eu escorria.
De um jeito estranho e sério ela sorria,
E mais verdades, aos poucos, eu derramava.

Porém, quando uma hora dei por mim,
Era com aqueles mesmos cacos que ela me apunhalava.
"Espere, um momento, o que é isso, como assim?"
Em pânico, quase aos prantos, eu gritava.

Com movimentos firmes, verdades-armas na mão
Pedaço por pedaço em meu peito ela enfiava
"Não tenha medo, não", fundo nos meus olhos ela olhava,
"Você vai ficar muito melhor, confia em mim", ela clamava.

Sair dali o mais depressa eu procurei,
Mas em areia movediça o chão se transformou.
"E agora, o que eu faço", em desespero eu pensei,
Pois sendo arrastada para ainda mais fundo nesse abismo eu estou.

Então os ecos do Coelho Branco novamente eu ouvi
E para dentro do abismo daquela toca
Talvez sem volta
Exausta. Entregue.
Eu segui.

"Rápido, Alice! É tarde!
A realidade a espreita e persegue,
O sonho é presságio,
O momento é fugaz.
Corra, Alice, corra atrás!
Siga o seu rastro,
O sonho!
É presságio,
É momento,
É fugaz!
Corra, Alice, corra!".


04 de junho de 2016
Carolina Grant


terça-feira, 24 de maio de 2016

Olhos de ressaca


Olhos de ressaca

Aqueles eram olhos de ressaca.

Ondas altas
Maré cheia
Pés descalços
Mar bravio

Aqueles eram olhos que sugavam.

Vidas fortes
Cores vivas
Muralhas
Vastos rios

Aqueles eram olhos que encantavam.

Inebriavam
Transformavam
Nada em tudo
Tudo em nada
E criavam
Imensos vazios

[Quando se afastavam]

Aqueles eram olhos de que todos precisavam.

E no dia em que lhes mergulhei
Eles estavam
Especialmente cinzentos
Ao fundo, abismo imenso
À beira, se encontrava

Vento forte
Cabelos esfumados
Lágrimas e retalhos
Leve, de pluma a quase pássaro

E então caiu
E eu pulei
Atravessei
O vidro dos teus olhos

Mas por entre os meus dedos estirados
Para longe ela escapou
Porque não caiu e, sim, voou

De garota a gaivota
Aos céus
Livre
Se lançou.
O dia clareou
E eu voltei
Para detrás das paredes de vidro daqueles olhos...

Mas aqueles eram olhos de ressaca.

Inebriavam
Transformavam
Nada em tudo
Tudo em nada
E criavam
Imensos vazios

[Quando se afastavam]

Veio, então, a agonia
Porque eu a via
Imobilizado
Por paredes de vidro
Que me mantinham afastado

Mas, inerte, não podia
Permanecer petrificado
Queimando pela necessidade de tê-la
E novamente mergulhá-la
Porque aqueles eram olhos de ressaca.

Materializou-se a agonia.
E quando eu já não a via,
As chamas me tomaram,
Mas também dor já não sentia
Eu a perdia
E me perdia
Nas cinzas daquele desvario.

No auge do delírio,
Quando nada mais havia,
Das cinzas, fênix, ressurgi.
Compreendi.
Agora, sim,
Eis que aos céus lhe poderia seguir.

Voamos lado a lado,
Separados por uma parede de vidro,
Transparente vidro frio daqueles olhos

Foi então que, de repente, percebi

Éramos uma
E juntas-una voávamos
Por detrás do infinito
Daqueles escuros olhos vivos (ondas altas, mar bravio) de ressaca.

24 de maio de 2016
Carolina Grant

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Reflex(ã)o


Reflex(ã)o

Eu quis parar para mergulhar
No mar profundo e escuro dos teus olhos,
Mas não tive coragem

Eu quis parar para investigar
A verdade oculta por detrás dos teus olhos,
Mas tive medo (do que encontrar...)

Eu quis parar para te olhar
Mas passei a vida inteira fugindo desses teus olhos,
Porque tive receio (deste teu espelho)

Eu quis parar
Mas esses teus olhos... 
Estes teus segredos,
Os mais profundos,
Eu não quis decifrar

Eu quis parar
E você sabia
Da minha covardia
E do meu desejo

Por isso me parou
Num deslize meu
E num relance (de canto de olho)
Me prendeu 
Neste teu cruel/fascinante espelho
E eu definhei
Qual Narciso
Nesses teus olhos meus...


12 de maio de 2016
Carolina Grant