Cântico do Retorno.
Ponte fina, abismo infindo, queda livre.
Galhos secos, folhas brancas, tinteiro,
Escorre a esmo, sangue negro, trigueiro.
Sem verso, sem vida, cada rima (é)
Último sopro, respiro, alma inteira.
Quisera abandonar a Arte, pudera?
Tentara...
Em vão.
Ela, gênero feminino, mulher de alma,
Orgulhosa... Abandonada.
Pela ira fora tomada.
Partira
Para buscá-lo... sem volta.
Para arrastá-lo... de volta.
Tomá-lo.
E seguiu destruindo tudo à sua volta,
Fazendo escorrer o sangue em suas veias,
Enquanto a tinta secava no tinteiro,
Inerte, infértil, inócua.
“Vem, você, que a mim fora destinado.
Poeta,
Eu sou a sua Deusa, sua única Musa,
Razão da sua existência
Ilógica, insana, confusa,
Não corra, não tente, não fuja.
Você, que a mim fora destinado,
Não existe (sem mim), não é livre,
Meu escravo,
Nem a morte há de levá-lo
Para longe da sua mestra, sua sósia, sua Arte”.
Cântico suave, mas firme.
Ouvira em sonhos, soubera
Era o chamado.
Correra, tentara, em meio à clareira,
Encontrar o caminho de volta.
Clamara...
Inspiração!
Silêncio.
Em vão...
Folhas brancas se perdiam na imensidão...
Ponte fina, abismo infindo, queda livre.
Galhos secos, folhas brancas, tinteiro,
Escorre a esmo, sangue negro, trigueiro.
Sem verso, sem vida, cada rima (é)
Último sopro, respiro, alma inteira.
“Vem, você, que a mim fora destinado.
Como disse, não podes morrer.
Dê-me a mão,
Levanta-te do abismo, ergues os olhos,
Pisas firme ao chão.
Não te desamparo,
Não te desesperes,
O teu destino está traçado.
Voltarás a escrever.
Verás teu sangue-tinta negro correr,
Firme, forte, folhas cheias,
Versos cheios, pulsantes,
Dor e ódio,
Amor e odes,
Tudo podes.
Abras os olhos, acordes.
Voltes.
Contigo estarei até a morte”.
Cântico, sonhos, a sorte
Mudara.
Ciente, voltara.
Nunca mais sequer pensar em abandonar
A Vida.
Também conhecida por aquilo a que chamam
Versos-folhas, formas-cores, vida-alma, arte-palavra. Poesia.
Retornara.
Carolina Grant
(24 de março de 2011)
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