À beira de mim...
Numa tarde cinza-concreto com nuvens de prata,
eu sentei à beira de mim.
E no fundo de um abismo profundo, eu vi
Uma imensa escuridão sem fim.
Sim, eu vi,
quando sentei à beira de mim.
Não fugi, nem desviei o olhar.
Não aleguei estar sem tempo
de parar e olhar para dentro.
Não, eu vi
a minha sombra refletida,
quando sentei à beira de mim.
Mas também não me atirei.
À loucura profana, não me entreguei.
Haveria de enxergar por detrás ou além,
pois sentia o calor de uma chama,
e uma voz a chamar: vem.
Em meio a escuridão, ecos e espinhos,
Procurei encontrar um caminho
Para dentro
(pois sabia que aquela imensidão não era o fim).
Árdua foi a jornada.
Não sem dor
resistência
angústia
cansaço
Mas, enfim, encontrei.
Era só brilho estes teus (tão meus) olhos-sorriso
Pequenina, risonha, menina... Ah, menina...
Num relance, tu somes!
Num vislumbre, onde estás?
Entre lembranças e sonhos...
Traz de volta a luz e a leveza
Desta tua brincadeira
E ilumina, aquece o meu peito
Me ensina a fazer do teu jeito
Sempre a recomeçar...
Sentada à beira de mim,
eu vi...
Uma luz, uma verdade,
em forma de menina,
pequenina,
eu vi...
A iluminar a minha sombra
Com a sua centelha divina
Minha semente-menina
A mim.
Sentada à beira de mim,
eu vi...
Teu sorriso meu a brilhar lá do fundo sem fim.
...
Levantei.
Caminhei...
Luz e sombra habitam em mim
Não é razão para temer ou parar, mas para seguir.
Recomecei.
Uma pausa.
Avancei... e percebi...
Sempre que precisar,
sentarei à beira de mim.
Salvador, 25 de janeiro de 2017.
Carolina Grant
***
E você? O que vê sentada(o) à beira de si?