Olhos de ressaca
Aqueles eram olhos de ressaca.
Ondas altas
Maré cheia
Pés descalços
Mar bravio
Aqueles eram olhos que sugavam.
Vidas fortes
Cores vivas
Muralhas
Vastos rios
Aqueles eram olhos que encantavam.
Inebriavam
Transformavam
Nada em tudo
Tudo em nada
E criavam
Imensos vazios
[Quando se afastavam]
Aqueles eram olhos de que todos precisavam.
E no dia em que lhes mergulhei
Eles estavam
Especialmente cinzentos
Ao fundo, abismo imenso
À beira, se encontrava
Vento forte
Cabelos esfumados
Lágrimas e retalhos
Leve, de pluma a quase pássaro
E então caiu
E eu pulei
Atravessei
O vidro dos teus olhos
Mas por entre os meus dedos estirados
Para longe ela escapou
Porque não caiu e, sim, voou
De garota a gaivota
Aos céus
Livre
Se lançou.
O dia clareou
E eu voltei
Para detrás das paredes de vidro daqueles olhos...
Mas aqueles eram olhos de ressaca.
Inebriavam
Transformavam
Nada em tudo
Tudo em nada
E criavam
Imensos vazios
[Quando se afastavam]
Veio, então, a agonia
Porque eu a via
Imobilizado
Por paredes de vidro
Que me mantinham afastado
Mas, inerte, não podia
Permanecer petrificado
Queimando pela necessidade de tê-la
E novamente mergulhá-la
Porque aqueles eram olhos de ressaca.
Materializou-se a agonia.
E quando eu já não a via,
As chamas me tomaram,
Mas também dor já não sentia
Eu a perdia
E me perdia
Nas cinzas daquele desvario.
No auge do delírio,
Quando nada mais havia,
Das cinzas, fênix, ressurgi.
Compreendi.
Agora, sim,
Eis que aos céus lhe poderia seguir.
Voamos lado a lado,
Separados por uma parede de vidro,
Transparente vidro frio daqueles olhos
Foi então que, de repente, percebi
Éramos uma
E juntas-una voávamos
Por detrás do infinito
Daqueles escuros olhos vivos (ondas altas, mar bravio) de ressaca.
24 de maio de 2016
Carolina Grant